De 'ninguém' à Doutora Honoris Causa: o legado de Adenilde Petrina em Juiz de Fora
- Silvia Carvalho
- 30 de out.
- 3 min de leitura
Atualizado: 31 de out.
Por Rádio Catedral

Será sepultado nesta sexta-feira (31) no Cemitério Parque da Saudade o corpo de Adenilde Petrina. Ela foi uma das maiores lideranças do movimento negro, do hip hop e da militância pela democratização da comunicação em Juiz de Fora.
Adenilde Petrina tinha 73 anos e estava em tratamento por causa de um câncer, segundo informações apuradas com a Secretaria Municipal dos Direitos Humanos. O velório está em andamento na Capela 2 do Parque da Saudade, onde será o sepultamento, às 9h de sexta.
Reconhecida pelo compromisso com a educação, a igualdade racial e a justiça social, Adenilde foi uma importante voz do movimento negro em Juiz de Fora e referência de resistência e empoderamento feminino.
Uma vida dedicada à transformação, destacam setores da Prefeitura
A Secretaria Municipal dos Direitos Humanos ressaltou que Adenilde dedicou toda a vida à transformação. O Secretário Municipal dos Direitos Humanos, Biel Rocha, falou sobre o legado que ela deixa
A Fundação Alfredo Ferreira Lage (Funalfa) ressaltou que é uma despedida de quem ensinou a mover o mundo:
"Temos muito orgulho de ter escutado sua voz e de ter podido bradar junto com ela nestes dez meses em que esteve conosco. Mas a verdade é que Adenilde sempre esteve e continuará presente entre todas as pessoas que fazem e defendem a cultura em Juiz de Fora.Sua caminhada, marcada pela força das periferias, pela democratização da comunicação, pelos fundamentos do Hip-Hop e pela construção coletiva da cultura, segue ecoando em cada gesto, em cada ação, em cada sonho que acredita na arte como instrumento de justiça social.A Funalfa abraça cada um dos amigos e familiares e agradece pela presença inspiradora de Adenilde, por seu legado e pelo barulho bonito que ela nos ensinou a fazer: aquele que move o mundo. “
Em nota nas redes sociais, a Prefeitura de Juiz de Fora também manifesta profundo pesar pela morte de Adenilde Petrina Bispo.
“Com uma trajetória marcada pela luta por igualdade, educação e comunicação popular, Adenilde dedicou sua vida à transformação social e ao fortalecimento das comunidades da periferia. Seu legado seguirá vivo na história e na memória de Juiz de Fora"
Em vídeo nas redes sociais, a Prefeita Margarida Salomão destacou a importância da trajetória de Adenilde para Juiz de Fora.
Uma das pessoas mais lindas e leves, destaca reitora da UFJF
Em nota de pesar, a reitora da UFJF, Girlene Alves destacou a força do exemplo de Adenilde Petrina.
Adenilde Petrina
Nascida em Cachoeira do Campo, distrito de Ouro Preto (MG), em 29 de junho de 1952, Adenilde veio com a família para Juiz de Fora aos 12 anos. Filha de um funcionário aposentado do DER-MG e da dona de casa.
Teve quatro cinco filhos. Estudou em escola pública e conseguiu uma bolsa de estudos no Colégio Santa Catarina. Em troca, ajudava na limpeza da instituição, onde ouviu os primeiros discursos sobre emancipação, proferidos por padres franceses e outros integrantes da comunidade eclesial.
Foi a primeira da família a entrar na universidade, em 1970, ao ser aprovada no vestibular para Faculdade de Filosofia. “Minha mãe logo falou que Filosofia não dava futuro, que era ‘terra de ninguém’. Então, eu disse que nós éramos ‘ninguém’. E era para a Filosofia mesmo que eu iria!” , contou Adenilde em entrevista à UFJF.
Na Universidade, contato pela primeira vez com militantes do movimento negro da cidade e passou a integrar o Grupo de Estudos Afrobrasileiro Aticorene (Geaba Aticorene).
Trabalhou na Biblioteca da Igreja da Glória, até se aposentar em 2008. foi professora da rede municipal de ensino por 29 anos. Era uma das lideranças do Santa Cândida, onde morava.
Entre os anos de 1997 e 2006, Adenilde atuou e foi coordenadora na rádio comunitária do bairro, a Mega FM. Após o fim das atividades da emissora, que teve o pedido de concessão negado pelo Estado, participou da criação do Coletivo Vozes da Rua, para difundir a cultura negra, formar e informar os jovens da periferia.
Em 2017, ela recebeu o título de Doutora Honoris Causa da UFJF. A expressão em latim, significa ‘por causa de honra’. Conforme a instituição a ex-aluna do curso de Filosofia ao longo de mais de quatro décadas, atuou no combate às desigualdades e na difusão da cultura negra.









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