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Morre Adenilde Petrina, uma das maiores lideranças comunitárias e do movimento negro de Juiz de Fora

  • Foto do escritor: Silvia Carvalho
    Silvia Carvalho
  • 30 de out.
  • 3 min de leitura

Por Rádio Catedral


Adenilde Petrina Foto: Twin Alvarenga/UFJF
Adenilde Petrina Foto: Twin Alvarenga/UFJF

Morreu na madrugada desta quinta-feira (30) Adenilde Petrina, uma das maiores lideranças do movimento negro, do hip-hop e da militância pela democratização da comunicação em Juiz de Fora


De acordo com informações apuradas com a Secretaria Municipal dos Direitos Humanos, ela estava em tratamento por causa de um câncer. Ela tinha 73 anos. O velório está previsto para começar a partir de 14h30 na Capela 2 do Parque da Saudade. O sepultamento será às 9h desta sexta (31).


A Rádio Catedral manifesta pesar e solidariedade aos familiares e amigos de Adenilde Petrina.


De 'ninguém' a Doutora Honoris Causa


Nascida em Cachoeira do Campo, distrito de Ouro Preto (MG), Adenilde veio com a família para Juiz de Fora aos 12 anos. Moravam na Fazenda Floresta, atual Bairro Floresta.


O pai, recém-aposentado, construiu estradas pelas Minas Gerais, para o Departamento Estadual de Estradas e Rodagens (DER). A mãe era dona de casa e cuidava dos cinco filhos.


Em meados dos anos de 1960, após concluir o ensino fundamental em escola pública, Adenilde conseguiu uma bolsa de estudos no Colégio Santa Catarina. Em troca, ajudava na limpeza da instituição, onde ouviu os primeiros discursos sobre emancipação, proferidos por padres franceses e outros integrantes da comunidade eclesial durante os anos da ditadura militar.


Em entrevista à UFJF, ela contou como foi a reação ao ser a primeira pessoa da famíli aprovada no vestibular.


“Minha mãe logo falou que Filosofia não dava futuro, que era ‘terra de ninguém’. Então,  eu disse que nós éramos ‘ninguém’. E era para a Filosofia mesmo que eu iria!”

“Não tive professoras e professores negros. Pouquíssimos eram os estudantes negros. Eu era a única da minha turma. Era tão raro, mas tão raro uma aluna negra de Juiz de Fora estudar na UFJF que um professor jurava que eu era de Cabo Verde e me chamava, inclusive, de caboverdeana, Na época, às vezes, a Universidade recebia estudantes africanos.”


Na Universidade, teve contato pela primeira vez com militantes do movimento negro da cidade e passou a integrar o Grupo de Estudos Afrobrasileiro Aticorene (Geaba Aticorene).


Concluída a graduação em Filosofia em 1974, Adenilde não parou mais de militar no movimento negro. Trabalhou na Biblioteca da Igreja da Glória, até se aposentar em 2008, e levava informações à comunidade do Bairro Santa Cândida, sobre direitos sociais, como acesso à saúde, saneamento básico, escola, transporte coletivo.


Em 1984, tornou-se professora de História na rede municipal e ensinou por 29 anos em escolas do Centro e bairros Santo Antônio e Teixeiras, até a aposentadoria em 2013.


No bairro Santa Cândida, onde morava, na Zona Leste de Juiz de Fora, foi uma das lideranças responsáveis por reivindicar direitos, tais como: saneamento básico, energia elétrica, transporte coletivo, escola pública, etc.


Entre os anos de 1997 e 2006, Adenilde atuou na rádio comunitária do bairro, a Mega FM, tendo sido coordenadora da emissora a partir de 2001. Após o fim das atividades da rádio, que teve o pedido de concessão negado pelo Estado, Adenilde participou da criação do Coletivo Vozes da Rua, para difundir a cultura negra, formar e informar os jovens da periferia.


Em 2017, ela recebeu o título de Doutora Honoris Causa da UFJF. A expressão em latim, significa ‘por causa de honra’. Conforme a instituição, a ex-aluna do curso de Filosofia era detentora do saber pela atuação ao longo de mais de quatro décadas, no combate às desigualdades e na difusão da cultura negra.


Adenilde Petrina recebeu título de Doutora Honoris Causa da UFJF em 2017 Foto UFJF/Divulgação
Adenilde Petrina recebeu título de Doutora Honoris Causa da UFJF em 2017 Foto UFJF/Divulgação

Legado

Em nota nas redes sociais, a Secretaria Municipal de Direitos Humanos se manifestou sobre Adenilde Petrina



Percorrer e abrir caminhos foi mais que um propósito — foi a marca de uma vida inteira dedicada à transformação.
Adenilde Petrina Bispo fez de Juiz de Fora seu território de luta, afeto e resistência.
Mulher negra, militante e sonhadora, acreditava na força da fraternidade, da solidariedade e na igualdade entre as pessoas.
Seu legado segue vivo nas comunidades, nas mulheres e em todos que acreditam que um mundo mais justo é possível.
A Secretaria Especial de Direitos Humanos presta sua homenagem e agradece por cada caminho que Adenilde ajudou a abrir. 🌹

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