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'Vencer a fome é semear a paz', diz Papa Leão XIV em discurso na FAO

  • Foto do escritor: Silvia Carvalho
    Silvia Carvalho
  • há 8 minutos
  • 4 min de leitura

Por Thulio Fonseca - Vatican News


Foto: Vatican Media
Foto: Vatican Media

O Papa Leão XIV deixou o Vaticano na manhã desta quinta-feira (16), e dirigiu-se à sede central da FAO, em Roma, para participar da cerimônia do Dia Mundial da Alimentação, que neste ano coincide com o 80º aniversário da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).


A data é celebrada com o tema “De mãos dadas por uma alimentação e um futuro melhores”.




O coração do Papa e o chamado à fraternidade universal


Em seu discurso, o Papa expressou profundo agradecimento pelo convite e recordou que seus predecessores sempre mantiveram uma relação de estima e proximidade com a FAO, e declarou que visita esta instituição como arauto e servo do Evangelho, levando uma mensagem de esperança a todos os povos:

“O coração do Papa, que não pertence a si mesmo, mas à Igreja e, em certo sentido, a toda a humanidade, mantém viva a confiança de que, se vencermos a fome, a paz será o solo fértil do qual nascerá o bem comum de todas as nações.”

Leão XIV afirmou que, oitenta anos após a fundação da FAO, a consciência da humanidade deve novamente se deixar interpelar pelo drama da fome e da desnutrição, lembrando que esse problema não é responsabilidade exclusiva de governos, empresários ou líderes políticos.


“Quem padece de fome não é um estranho. É meu irmão, e devo ajudá-lo sem demora”, declarou. Segundo o Papa, “vencer a fome é uma condição essencial para a paz e o desenvolvimento integral das nações”.


Fome: um escândalo que clama ao céu

Com voz firme e diante de uma grande assembleia composta de líderes políticos e agentes sociais, o Pontífice denunciou o escândalo de milhões de pessoas que ainda sofrem de fome em meio ao progresso tecnológico e científico. “Permitir que milhões de seres humanos vivam e morram vítimas da fome é um fracasso coletivo, uma aberração ética, uma culpa histórica.”


Leão recordou que 673 milhões de pessoas no mundo vão dormir sem comer e que outras 2,3 bilhões não têm acesso a uma alimentação adequada: “Por trás de cada número há uma vida despedaçada, uma comunidade vulnerável; há mães que não podem alimentar seus filhos”,ressaltou.


O Papa também denunciou o uso do alimento como arma de guerra, condenando a prática que impede comunidades inteiras de terem acesso ao sustento. “A fome imposta é um crime contra a humanidade. O silêncio dos que morrem de fome grita à consciência de todos, mesmo que muitas vezes seja ignorado ou distorcido.” E com vigor profético, afirmou: 


“A fome não é o destino do homem, mas a sua ruína. É um grito que sobe ao céu e exige resposta rápida de todas as nações, de todos os organismos, de cada pessoa.”

Leão XIV convidou a humanidade a romper a indiferença e a agir de forma concreta. “Ninguém pode permanecer à margem dessa luta: é uma batalha de todos.” Segundo ele, o desperdício de alimentos é um insulto à dignidade humana. “Como podemos tolerar que toneladas de alimentos sejam jogadas fora, enquanto multidões buscam nos lixos algo para comer?”, questionou o Pontífice. “O mundo não pode continuar assistindo a espetáculos tão macabros”, destacou o Santo Padre, é preciso pôr fim a isso o quanto antes:


“Os responsáveis políticos e sociais podem continuar polarizados, gastando tempo e recursos em discussões inúteis e virulentas, enquanto aqueles a quem deveriam servir continuam esquecidos e usados em nome de interesses partidários? Não podemos nos limitar a proclamar valores. Devemos incorporá-los. Os slogans não tiram ninguém da miséria. É urgente superar um paradigma político tão acirrado, baseando-nos em uma visão ética que prevaleça sobre o pragmatismo vigente, que substitui a pessoa pelo lucro. Não basta invocar a solidariedade: devemos garantir a segurança alimentar, o acesso aos recursos e o desenvolvimento rural sustentável.”


Do slogan à ação: solidariedade que se torna compromisso

Ao comentar o tema do Dia Mundial da Alimentação: “De mãos dadas por uma alimentação e um futuro melhores”, o Papa sublinhou que não basta promover ideais ou slogans: é preciso transformar palavras em gestos concretos. “Somente unindo as nossas mãos poderemos construir um futuro digno, onde a segurança alimentar seja reafirmada como um direito e não um privilégio.”


O Pontífice destacou também o papel essencial da mulher na luta contra a fome. “As mulheres são as primeiras a velar pelo pão que falta, a semear esperança nos sulcos da terra e a amassar o futuro com as mãos calejadas pelo trabalho.” Reconhecer e valorizar esse papel, disse ele, “não é apenas uma questão de justiça, mas uma garantia de um modo de vida mais humano e sustentável.”


A omissão nos torna cúmplices


Por fim, o Papa defendeu o fortalecimento do multilateralismo e da cooperação entre as nações, especialmente em favor dos mais pobres. “Os países mais vulneráveis esperam ser ouvidos sem filtros, ter suas carências compreendidas e receber oportunidades reais, não soluções impostas de escritórios distantes.”


Leão XIV lembrou que as consequências das injustiças recaem sobre toda a humanidade, e citou os povos que sofrem em regiões marcadas por guerra e pobreza, como Ucrânia, Gaza, Haiti, Afeganistão, Mali, República Centro-Africana, Iêmen e Sudão do Sul. “A comunidade internacional não pode virar o rosto. Devemos assumir a dor deles como nossa.” O Papa exortou a todos a não se acostumarem à fome como um “ruído de fundo” do mundo contemporâneo: “Com nossa omissão, tornamo-nos cúmplices da injustiça.”


Dai-lhes vós mesmos de comer


Encerrando sua visita, Leão XIV invocou a bênção de Deus sobre os funcionários da FAO e sobre todos os que trabalham em favor da segurança alimentar e da justiça social. “A fome tem muitos nomes e pesa sobre toda a família humana. Todo ser humano tem fome não apenas de pão, mas também de fé, de esperança e de amor.” E recordando o Evangelho, concluiu:


“O que Jesus disse aos seus discípulos diante da multidão faminta permanece um desafio atual para o mundo: ‘Dai-lhes vós mesmos de comer’. Não se cansem de pedir a Deus coragem e energia para continuar trabalhando por uma justiça que produza frutos duradouros e benéficos. Ao prosseguirem seus esforços, vocês sempre poderão contar com a solidariedade e o empenho da Santa Sé e das instituições da Igreja Católica, que estão prontas para sair e servir os mais pobres e desfavorecidos em todo o mundo."


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