Por Rádio Catedral
O Vaticano autorizou a abertura do processo de beatificação do Padre Cícero Romão Batista, chamado carinhosamente pelos fiéis nordestinos de "Padim Ciço".
A decisão, tomada em junho deste ano pela Santa Sé, foi anunciada pelo Bispo da Diocese de Crato (CE), Dom Magnus Henrique Lopes, durante romaria neste fim de semana em Juazeiro do Norte, no Ceará.
Com a autorização para abertura do processo, Padre Cícero recebe o título de “Servo de Deus”. A partir de agora, será feita uma investigação das virtudes ou martírio. Concluído o processo, o (a) candidato (a) passa a ser considerado (a) venerável. Para se tornar beato ou beata é preciso a comprovação de um milagre alcançado por meio de sua intercessão.
Leia o texto do Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, cardeal Orani João Tempesta: Padre Cícero, servo de Deus
Padre Cícero, Servo de Deus
De acordo com as informações da Diocese de Crato, em 2001, foi constituída uma comissão a fim de preparar uma revisão histórica sobre a causa de Padre Cícero.
Após cinco anos de trabalho, em 30 de maio de 2006, uma petição foi entregue à Congregação para a Doutrina da Fé com a assinatura de 254 bispos brasileiros pedindo um gesto concreto de reconhecimento das ações pastorais e apostólicas do padrinho da nação romeira no desenvolvimento da região.
Oito anos depois, em 27 de outubro de 2014, a Congregação indicou o caminho da reconciliação do Padre Cícero Romão na carta histórica assinada pela Secretaria de Estado do Vaticano.
No vídeo abaixo, assista ao momento do anúncio feito pelo bispo da Diocese de Crato (CE), dom Magnus Henrique Lopes.
A fé incentivada pelo "Padim Ciço"
Segundo a Diocese de Crato, Padre Cícero dinamizou a espiritualidade católica na região do Cariri, sendo responsável pela espiritualidade de todo o povo nordestino até os dias de hoje. O sacerdote nasceu na cidade do Crato, em 24 de março de 1844. Foi ordenado sacerdote em 30 de novembro de 1870.
Celebrou a primeira missa menos de um mês depois, em Juazeiro, então um povoado chamado Tabuleiro Grande na noite de Natal. A partir daí passou a estar mais presente, atendendo o povo com as palavras e com o exercício ministerial.
Foi com um sonho que o Padre Cícero percebeu como se daria a sua missão em Juazeiro. Ele vislumbrou a última ceia, percebeu a presença de inúmeras pessoas ao redor de Jesus e dos apóstolos. Seriam os flagelados da seca que assolava o interior nordestino.
Diante de tão impressionante cena, Padre Cícero escutou de Jesus as palavras que o acompanharam durante toda a sua vida: “e tu, Cícero, toma conta deste povo!”. Foi realmente um divisor de águas para um sacerdote recém-ordenado.
A suspensão da ordem por causa do milagre contestado
Padre Cícero ainda foi testemunha ocular de outro importante acontecimento em Juazeiro. Em março de 1880, numa celebração eucarística ocorrida na primeira sexta-feira do mês, com a presença de moças que viviam da caridade, auxiliando a catequese daquele povo.
Depois de horas de oração e jejum por ocasião da Quaresma, Padre Cícero, ao dar a comunhão à Beata Maria de Araújo, a hóstia consagrada se transformou em sangue em sua boca. Fato que ocorreu ainda por mais 138 vezes, num período de quase dois anos.
O site Cruz Terra Santa lembra que o fato foi investigado por duas comissões. Uma atestou milagre. Os padres da outra comissão convocaram a beata, deram a ela a Comunhão e nada de extraordinário ocorreu. Por isso, a segunda comissão informou que não houve milagre e este parecer foi enviado e atestado pela Santa Sé.
Ao protestar, Padre Cícero foi acusado de desobediência ao bispo e foi suspenso da ordem. Ele passou o restante da vida tentando revogar a decisão, mas não conseguiu.
Mesmo assim, os acontecimentos fomentaram as peregrinações de devotos a Juazeiro do Norte, que queriam conhecer o sacerdote.
Influência na vida de Juazeiro
Suspenso da missão presbiteral, Padre Cícero foi para outra área de atuação. Juazeiro do Norte se emancipou em 22 de julho de 1911. O sacerdote foi o primeiro representante municipal.
A cidade se desenvolvia no aspecto político-econômico e a religiosidade popular se tornava ainda mais forte com os conselhos de Padre Cícero e com a crescente presença dos romeiros e das romarias.
"Santo" do povo
Padre Cícero faleceu no dia 20 de julho de 1934, aos 90 anos, ainda suspenso da ordem. A reconciliação com a Igreja Católica só ocorreu em 2015, após decisão autorizada pelo Papa Francisco, como relatou o site da Canção Nova.
Depois disso, Juazeiro prosperou e a devoção a ele só cresceu. Até hoje, todo ano, no Dia de Finados, uma grande multidão de romeiros, visita o túmulo dele, na Capela do Socorro, em Juazeiro.
O site Cruz Terra Santa destaca que existem mais de 200 livros sobre Padre Cícero. Não foi canonizado pela Igreja, porém é tido como santo por sua imensa legião de fiéis espalhados pelo Brasil.
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