Celebramos, no último dia 25 de julho, o primeiro Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, iniciativa do nosso amado Papa Francisco, que sempre está com o coração voltado para as pessoas que mais necessitam de atenção. No meio da dolorosa pandemia que assola o mundo há um ano e meio, o Sucessor de Pedro nos convida a contemplar as pessoas idosas, que tanto têm sofrido com a Covid-19, seja no enfrentamento pessoal da doença, sendo que tantos foram colhidos pela morte; seja pela dor de perder entes queridos, entre os quais estão também netos que se foram; seja ainda pelo isolamento social que os privam dos afetos de seus familiares e amigos.
Naquele dia, iniciamos também, na liturgia, uma série de cinco domingos cujas leituras do evangelho serão do capítulo VI de São João, interrompendo a leitura do Evangelho de São Marcos que vínhamos fazendo sequencialmente até o 16º Domingo do Tempo Comum. O capítulo VI de São João é um dos mais belos das Sagradas Escrituras e trata especificamente do Pão Eucarístico e do pão da partilha. Tal capítulo inicia-se com a narrativa da multiplicação dos pães, milagre estupendo de Jesus, o único narrado nos quatro evangelhos. Ele será básico para a doutrina da Sagrada Eucaristia que Jesus irá instituir às vésperas de sua morte.
A narrativa segundo São João é a mais longa e mais completa, possivelmente por ter sido concluída mais tardiamente a redação deste evangelho, quando a comunidade dos cristãos já estava mais experimentada e podia refletir mais profundamente sobre as ações e as palavras de Jesus.
Na verdade, o passar do tempo é bom conselheiro e bom mestre de nossa vida. Quanto a isso, o Papa Francisco, em sua mensagem de instituição do Dia dos Avós e dos Idosos, recorda que há três pilares para a vida enquanto vamos nos tornando mais maduros: os sonhos, a memória e a oração. Os sonhos, próprios dos jovens, nunca devem ser desprezados, pois, enquanto se está vivo, se pode sonhar.
Mas será sempre importante para as novas gerações a memória dos mais velhos, pois sem os fatos recordados pelos idosos, mesmo que sejam experiências dolorosas, nada se pode construir. Por fim, a oração, sem a qual é impossível manter a relação com Deus e dar rumo certo à vida. O Papa Francisco cita, muito simpaticamente, o Papa Bento, idoso santo que continua a servir à Igreja com sua vida intensa de oração, afirmando: “A oração dos idosos pode proteger o mundo, ajudando-o talvez de modo mais incisivo do que a fadiga de tantos” (Papa Bento 12.11.2012).
Assim compreendemos como a maturidade da comunidade joanina pôde entender mais intensamente o milagre da multiplicação dos pães e o próprio evangelista, testemunha ocular dos fatos, pôde escrever tão precisamente. Certamente os relatos dos mais velhos ajudavam os mais novos a assimilar sua fé e sua vida eucarística.
Alguns elementos são importantes neste relato. Jesus alimenta uma multidão de cerca de cinco mil homens, sem contar as mulheres e as crianças; portanto, pode-se calcular, ao menos, dez mil pessoas. Ele o faz multiplicando cinco pães e dois peixes, generosamente oferecidos por um menino apresentado por São Tomé, irmão de São Pedro. A multidão alimentada representa o mundo, sempre com fome e sede de Deus.
A Igreja perpetua o milagre de Cristo, repartindo abundantemente o Pão Eucarístico que é, na verdade, o Corpo e Sangue do Senhor, nosso Redentor sempre presente. O Senhor continua alimentando, com seu próprio corpo, a milhões, quiçá bilhões de fiéis que nele creem em todo o mundo, através de milhares de missas que são celebradas por todas as partes.
A Eucaristia nos ensina a repartir, a ser solidários, sobretudo nos tempos difíceis, como é o caso da pandemia, e quando as pessoas experimentam exigências mais sérias, como é o caso dos avós e dos idosos carentes de maiores cuidados. O pão da palavra, da caridade, da solidariedade, do perdão, da amizade, e tantos outros tipos de pães necessários.
A partir do milagre da Eucaristia, o maior deles, segundo São Tomás de Aquino, repartamos os nossos pães da atenção e do carinho com todos, especialmente com nossos avós, nossos idosos, procurando beber deles toda a sabedoria.
Dom Gil Antônio Moreira Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora
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