Ricardo Oliveira estava a fila de transplantes há quase 10 anos e fazendo hemodiálise, mesmo levando vida normal era necessário o procedimento e o órgão compatível veio quando fazia uma trilha na Serra dos Órgãos. Era preciso correr contra o tempo e ele foi "resgatado" de helicóptero pelos Bombeiros e trazido para a Santa Casa de Juiz de Fora.
Por Fabíola Castro
Uma espera que pode durar de meses a anos em uma fila. Um novo órgão pode devolver a vida, a saúde e a alegria de viver ao paciente que não tem mais recursos de tratamentos na medicina. Este 27 de setembro é o Dia Nacional da Doação de Órgãos, data para conscientizar as pessoas para a importância de ser um doador. Na lista de espera por um transplante de órgão estão cerca de 65 mil brasileiros.
São diversas as histórias por trás de uma doação e de um transplante. A do paciente Ricardo Medeiros de Oliveira, de 48 anos, morador de Petrópolis (RJ), parece ter sido escrita literalmente pelo dedo de Deus.
Depois de quase 10 anos fazendo hemodiálise, mesmo tendo já recebido um rim há alguns anos, ele se viu diante da necessidade do transplante novamente. E a notícia do órgão compatível veio quando, ele que é condutor de atrativos naturais, estava em uma trilha na Serra dos Órgãos, na Região Serrana do Rio de Janeiro. E foi na Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora que o rim compatível estava à sua espera. Ricardo, no hospital, contou da sua trajetória.
Guiando um grupo no alto Serra dos Órgãos ele recebeu várias ligações no sábado, 23 de setembro, e a chegada ao hospital em Juiz de Fora precisava ser rápida. Sem saber o que poderia ser feito, e com receio de perder a oportunidade, ele disse que aguardou.
Uma verdadeira operação de “resgate” foi montada para buscar Ricardo Oliveira na Serra dos Órgãos.
O paciente transplantado ressaltou que gratidão a todos os envolvidos desde o resgate até a cirurgia é o sentimento, uma mistura de emoções.
Ricardo Oliveira finaliza falando sobre seus planos para depois da alta do hospital, para a nova vida sem hemodiálise.
O paciente Ricardo Oliveira apesar de ser morador de Petrópolis, aguardava pelo transplante na lista da Santa Casa de Juiz de Fora. O hospital possui, além dos programas de transplante renal, também de pâncreas e fígado ativos, e recebe pacientes provenientes de 105 cidades dos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo.
A Santa Casa já realizou mais de 1.500 transplantes, cerca de 128 de rim somente em 2023, sendo o hospital que mais realiza essas cirurgias no estado de Minas Gerais e no ranking nacional de transplantes está na 5ª colocação.
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Minas Gerais volta a realizar transplante de pulmão e reforça importância da doação de órgãos e tecidos*
O Governo de Minas Gerais, por meio da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) anunciaram a retomada do serviço de transplante de pulmão no estado.
O procedimento, que foi realizado no estado de 1998 a 2014, estava suspenso desde então devido à falta de equipe ativa para o transplante do órgão. Os pacientes com indicação de transplantes de pulmão, até então, eram cadastrados em lista de espera de outros estados e encaminhados para acompanhamento via tratamento fora do domicílio (TFD). Em 2023, 18 pessoas entraram nesta lista.
A retomada dos transplantes de pulmão e o transplante de coração em crianças são duas ações da Política Continuada de Ampliação à Doação e Transplante de Órgãos e Tecidos do Sistema Único de Saúde (SUS), aprovada no último mês de agosto na Comissão Intergestores Bipartite – CIB (que regulamenta as políticas de Saúde no âmbito da gestão do SUS no estado), que vai destinar R$ 9,79 milhões anuais aos Fundos Municipais de Saúde e entidades sob gestão estadual. Ainda em 2023, está previsto o repasse de R$ 2,32 milhões para qualificar as ações realizadas pelas Comissões Intra-Hospitalares para Doação de Órgãos e Tecidos para transplantes.
Os recursos anuais também serão utilizados para viabilizar a implantação e manutenção de novos serviços de transplantes pediátricos (cardíaco e hepático) e pulmão; e fomentar a ampliação da realização de transplantes de coração, fígado, rim, pâncreas, pâncreas-rim e tecidos oculares em Minas Gerais.
O Secretário de Estado de Saúde de Minas Gerais, Fábio Baccheretti, destacou que não só os mineiros serão beneficiados. “Vamos começar a receber pacientes do Espírito Santo e também da região Centro-Oeste. Então, em vez de entrarmos na fila de outros estados, como era até então, nós é que vamos receber esses pacientes”.
O secretário salientou que a captação de órgãos ainda é um grande desafio para os transplantes. “Temos uma taxa de recusa das famílias de mais de 40% na doação de órgãos e precisamos ampliar essa captação. Para isso, uma das estratégias é capacitar cada vez mais as equipes e conseguir também reduzir o tempo de diagnóstico da morte encefálica, a fim de viabilizar o transplante. E o mais importante, é preciso que todos informemos às nossas famílias que somos doadores”, declarou ele.
O vice-governador de Minas Gerais, Professor Mateus Simões de Almeida, destacou que Minas Gerais tem uma capacidade muito grande para a realização de transplantes.
Professor Mateus Simões ressaltou também a importância da retomada dos transplantes de pulmão no estado.
Números em MG
De 1992 a 2022, Minas Gerais realizou 47.559 transplantes de tecidos e órgãos. Em 2020, foram realizados 1.573 procedimentos. Já em 2021, foram 1.733; e, em 2022, 2.007 transplantes. Em 2023, entre os meses de janeiro e setembro, foram realizados no estado 1.616 procedimentos, sendo 629 de córnea, 44 de escleras, 221 de medula óssea, 410 de rim com órgão de doador falecido, 105 de rim com órgão de doador vivo, 57 de coração, seis de fígado conjugado com rim, 127 de fígado, 11 de rim conjugado com pâncreas e seis de pâncreas.
Os números ainda estão distantes do necessário para atender à fila de transplantes no estado. Até 23 de setembro, havia 6.505 pacientes ativos na lista de espera da Central Estadual de Transplantes, sendo 3.295 de córnea, 3.027 de rim, 108 de fígado, 44 de rim conjugado com pâncreas, 25 de coração e seis de pâncreas.
*Fonte: Agência Minas.
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